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Já muito se disse sobre o Nobel da Paz atribuído à União Europeia. Compreendo o prémio nesta altura, em que o projecto europeu se parece estar a desfazer como um alerta da guerra que podemos vir a ter se a crise financeira e económica da Zona Euro continuar sem solução à vista. Confesso, no entanto, que tinha preferido ver o prémio a ser entregue a uma pessoa. Por exemplo, a Malala Yousafzai, uma rapariga paquistanesa de 14 anos, que, em 2009, denunciou que os talibãs proibiram o acesso das raparigas à escola. Apesar dos riscos, Malala Yousafzai continuou a ir, incentivada pelo pai e por uma pequena comunidade que não aceita as imposições criminosas dos talibãs. Há dias, à saída da escola, foi baleada na cabeça por um extremista. Está viva, mas a sua situação clínica inspira cuidados, por isso foi transferida para um hospital em Inglaterra. Malala Yousafzai não desistiu com a ameaça nem hesitou perante a injustiça. Coragem é isto.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 19-10-12
Um doido varrido chamado Felix Baumgartner atirou-se do espaço para a terra. A operação demorou cinco anos a preparar e o salto da distância de 39 mil metros não aconteceu quando era esperado. Parece que o clima não quis logo colaborar. Vi por fim o dito salto e fotografei tudo no Instagram a partir do streaming ao vivo, sentada no sofá, ao mesmo tempo atónita com a possibilidade de estar a assistir ao que poderia ser o suicídio de uma pessoa. Mas chega de falar de mim. Falemos antes da confusão instalada nos comentários online em jornais, etc., sobre a alegada ‘coragem’ do saltador austríaco. Baumgartner não é corajoso, mas antes temerário ou, prosaicamente falando, um rapaz armado em bom. Arriscou a vida para bater um recorde do mundo e cumprir um patrocínio. Os seus fins não justificam sequer uma saída de casa. Não é um herói: está só doente. Não é corajoso: é só um tolo. Há que saber distinguir para podermos reconhecer uma virtude quando a vemos.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 19-10-12