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Adorava que me oferecessem um drone, mas sei que não vai acontecer. Não vai acontecer também porque é mais ou menos um desejo secreto. Já devo ter dito que gostava de ter um drone, mas nunca fui muito veemente na expressão deste desejo. E o desejo tem de ser expresso com clareza, senão confunde-se com outra coisa qualquer, como preguiça, capricho ou gripe. Acontece que nem eu percebia bem por que gostava de ter um drone. Isto até ver o documentário baseado nas conversas entre Hitchcock e Truffaut, em que a dada altura se fala de um plano em The Birds. Vários realizadores comentam este plano tão de cima e dizem que não se percebe quem está a olhar lá para baixo. Só pode ser Deus, porque é demasiado longe de tudo. Hitchcock oferece a explicação mais prosaica: filmar assim poupava-o a uma série de pormenores, como ter de filmar gente a fugir, etc. A explicação prática é poderosa mas nunca é completa e sobretudo não é a verdadeira, passo o meu Freud. Aquilo que me atrai no drone é possibilidade de poder ver e fotografar certas coisas de cima e de longe -- o que me atrai é a distância.