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- Este ano decidi não revelar as minhas resoluções a ninguém. Não sou muito de falar sobre o que vou fazer (mesmo a lista do ano passado dizia tão pouco para o que era), mas ao longo do tempo tenho adquirido uma espécie de superstição relativamente à partilha (online ou ao vivo). Partilhar pode trazer felicidade a quem se sente na obrigação de pertencer a um grupo. Não há nada de errado nisto, mas também não há nada de errado em simplesmente viver sem estar sempre a relatar o que se faz (um hábito que se tornou sinistro dos dias de hoje). A ideia de não haver vida porque não há registos dessa vida (o caso clássico da pessoa que "não está nas redes sociais") faz-me pensar em várias coisas que me interessam e que, por isso mesmo, não quero partilhar.
- Durante o Verão, a PSP costuma alertar as pessoas para não publicarem fotos de férias para depois não terem a surpresa desagradável de regressar a uma casa que foi assaltada, mas mesmo assim continua a haver demasiada informação a circular nas redes sociais que é dada pelos próprios.
- Não fico aborrecida quando não acertam numa descrição sobre mim. Fico aliviada porque percebo que quem me descreveu não sabe nem percebeu nada. Quem sabe o que é ser livre percebe o que quero dizer com isto.
- As consequências desta imensa vontade de partilhar, ser visto, ser amado, ser falado, até de ser descrito por desconhecidos com a maior precisão e justiça possíveis estão bem expressas na última temporada de Black Mirror. Há dois episódios em que está prevista a possiblidade de salvação, dirigindo uma nave espacial num jogo em direcção a um wormhole no exacto momento da actualização ou arriscando a fuga de um sistema de pesadelo de Tinder, que interpreta precipitações como erros merecedores de castigo, impedindo a união de casais apaixonados. Em ambos os casos, fugir é a solução. Fugir da tecnologia, escapar da cabeça dos outros, dos sistemas dos outros.
- O primeiro e o quarto episódios são optimistas. Mas o melhor da temporada é o terceiro. Sufocante, delirante e com um final imprevisível, mas acertado. Quando houver um mecanismo capaz de extrair as nossas memórias, a humanidade saberá que os animais não são assim tão diferentes de nós.