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Diário primaveril (1)

por Carla Hilário Quevedo, em 30.03.18

- Fiquei triste com a morte do Manel Reis. Teria uns 17-18 anos quando o conheci. O que me diverti no Frágil não tem explicação. Obrigada, Manel, por teres inventado um espaço único, onde aconteceram tantas coisas boas.

- Por causa deste texto do António Rolo Duarte, percebi que a geração que tem hoje vinte e tal anos não sabe quem foi o Manel Reis nem faz a mínima ideia de como era a noite lisboeta em finais da década de 80. Havia poucos bares e menos discotecas (Frágil, Três Pastorinhos, Trumps, Plateau, Kremlin e depois veio o Alcântara-Mar, além do Tóquio e do Jamaica no Cais do Sodré) e os clientes conheciam-se todos. A expressão "Lisboa é um bidé" deve ter sido inventada naquela altura.

- Não tenho nostalgia da juventude. Como, se ainda a estou a viver? Ô-e-ôô! 

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publicado às 11:48

Diário invernoso (8)

por Carla Hilário Quevedo, em 11.03.18

- Já muito se escreveu sobre a ânsia portuguesa de mostrar títulos académicos que não se tem, mas é um impulso que continua por explicar. Também não tenho explicação para aquelas pessoas que se apresentam como "doutorando" ou "doutoranda". É um termo vazio (embora nunca um gerúndio fosse tão adequado a uma actividade) e que se presta a ser mal lido. Há duas coisas que interessam na vida: o modo de proceder (jesuítas) e o fim (Aristóteles). O resto é entretenimento.

- Por falar em jesuítas, escrevi sobre responsabilidade política aqui

- Por falar, de novo, em terapias alternativas, gostei de ler este artigo de Luís Carvalho. Cientistas a serem espertos, muito bem!

- Entretanto, na Noruega, fizeram uma experiência que mostra bem como a normalização da injustiça, de resto como o medo (basta ver vídeos de bebés com gatos e cães à volta), são conceitos que se adquirem.

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publicado às 09:00

Diário invernoso (7)

por Carla Hilário Quevedo, em 04.03.18

- A minha rede social preferida continua a ser o YouTube, mas confesso que não sei nada de YouTubers, nem quero saber. Dá para imaginar durante dois minutos, para esquecer logo a seguir. O que vou encontrando pelo YouTube são coisas que o algoritmo "sabe" que me interessam. 

- Attenborough's Paradise Birds é um documentário de 2017 que a RTP tem de comprar para eu ver. O excerto com Sir David Attenborough e uma ave-do-paraíso faladora e exibicionista a interromper as filmagens (feitas em 2015) é das coisas mais extraordinárias que vi nos últmos tempos. Mostra bem aquilo a que deveríamos aspirar e o que é ser uma pessoa maravilhosa, não há outro termo para descrever este homem. A maravilha que é ter uma curiosidade ilimitada pelo que existe e que se revela sem constrangimentos! E depois o respeito de Attenborough perante a ave, que atitude inspiradora e comovente e, ao mesmo tempo, tão divertida. As boas maneiras ditam que não se interfira no modo de expressão dos outros e que fiquemos calados quando os outros falam, sobretudo quando nos estão a fazer uma grande festa. Tão bom!

 

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publicado às 11:50

Diário invernoso (6)

por Carla Hilário Quevedo, em 03.03.18

- Tinha imensas perguntas para fazer aos intervenientes na conversa sobre o livro João Villalobos, Terapias, energias e algumas fantasias, mas há debates que simplesmente não toleram a moderação, nem em tom. Sobre o livro do João, tenho a dizer que está muito bem escrito, fala de charlatães com humor e regista os testemunhos das pessoas que acreditam nas terapias alternativas de um modo sério e respeitoso. Como diria Francisco, quem somos nós para julgar? Ouvi com atenção o Pedro Teixeira da Mota e o David Marçal e, apesar do confronto mais que evidente entre duas maneiras muito distintas de pensar, não identifiquei problemas insanáveis.

- A crítica mais que válida da ciência no que respeita às terapias alternativas centra-se no facto de as segundas estarem a reclamar um território que não lhes pertence e que, por muito que queiram, não merecem: o da prova. Uma experiência pessoal com Reiki ou acreditar na "má onda" (não sei como ninguém invocou esta sábia expressão!) de pessoas que temos o dever de evitar não são prova científica de nada. Indo directamente ao assunto: como é que os defensores das terapias alternativas podem resolver isto? Abandonando a necessidade de prova e assumindo que não são "alternativas", mas "complementares". Esta simples mudança nos termos pode ajudar a abrir o espaço à crença - porque, na verdade, é esse o campo deste tipo de terapias - e a deixar à ciência as provas, a refutação e, sobretudo, o progresso.

- Não podemos é negar que há cada vez mais pessoas a recorrer a métodos não convencionais de terapia. Uma médica presente contou que num estudo feito em 2003 na sua unidade hospitalar de tratamento da dor (uma questão altamente subjectiva) as conclusões foram que cerca de 30% dos pacientes usavam alguma forma de terapia não convencional. "Hoje em dia, a percentagem seria, talvez, de 70%", referiu. A explicação que deu foi também muito interessante: a relação entre médico e paciente mudou imenso. Há menos tempo para dedicar a cada pessoa, o que tem como consequência dar menos atenção a quem está vulnerável pela doença e, sobretudo, ser menos vigilante no que respeita à toma devida dos medicamentos. Concluindo, penso que o termo "alternativas" é altamente prejudicial para todos, porque induz as pessoas em erro. Não se trata de fazer Reiki em vez de tomar o antibiótico quando este é necessário, sendo certo que nem tudo na vida se resolve com comprimidos. Ora, se até a leitura dos diálogos de Platão tem efeitos terapêuticos tão modestos...

- Por falar em Platão, isto está bem feito. 

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publicado às 11:41