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- Vi o filme Three Bilboards Outside Ebbing, Missouri, entusiasticamente elogiado quando esteve nas salas de cinema. Não o fui ver na altura, porque, como sabem, não ponho os pés numa sala de cinema há anos (minto: no outro dia fui ver o extraordinário Isle of Dogs numa sessão à hora do almoço e, embora fôssemos cinco na sala, entre os quais duas crianças que não se calaram com perguntas à avó, jurei para nunca mais). Muitos falaram da interpretação magistral da sempre excelente Frances McDormand. Não teria mais nada a acrescentar a não ser mais elogios. Mas depois é a história sobre um crime sem solução e a maneira como está contada. A partir do suicídio de Willoughby, tudo descarrila, o que está certo. Pouco antes, há uma cena extraordinária, quando Willoughby interroga Mildred na esquadra. Há ameaças de parte a parte, numa discussão muito tensa. Mildred culpa a polícia por nada fazer e Willoughby está furioso com os cartazes. E, de repente, Willoughby tosse sangue na cara de Mildred, pede desculpa, diz que não foi de propósito, e insiste: "I didn't mean to. It was an accident", e Mildred diz com piedade: "I know, baby". E, de repente, tudo se mistura e revela ao mesmo tempo, como se a discussão fosse afinal uma representação neurótica daquela verdade que nenhum podia dizer ao outro. Mildred não podia admitir a impossibilidade de encontrar o assassino da filha e Willoughby não podia pedir desculpa por não conseguir encontrá-lo. Mas em todos os momentos, Mildred tratou-o como uma pessoa: quando pôs os cartazes sabendo que estava doente e nesta cena, em que lhe põe a mão na cara num gesto de compaixão. É tão bom ver a total ausência de paternalismo em acção.
- E depois há esta personagem gloriosa, numa cena que mostra na perfeição o que é a ira. Sam Rockwell é um grande actor e mereceu o Óscar de Melhor Actor Secundário.