Estudos comparativos
Vim o caminho todo a pensar no que seria, exactamente, a voz média. A voz activa é a mesma coisa. A voz passiva também não apresenta dificuldades. Mas aquela voz média, em grego antigo, inexistente no grego moderno, e que insistem em explicar como se fosse uma espécie de quase voz passiva, confude-me. Ou melhor, confundia. A coisa foi mal explicada, concluo, pior percebida e pessimamente estudada. A voz média é muito simplesmente a nossa voz reflexiva. Vejamos a definição da gramática de António Freire: "A voz média corresponde à nossa reflexa directa quando a acção é exercida pelo sujeito sobre si mesmo; ou indirecta, quando o sujeito pratica a acção para si mesmo, em seu proveito". (p. 74) Isto significa que, em grego clássico, digo "exercito-me", sem o uso do pronome oblíquo; ou seja, está tudo condensado no mesmo vocábulo. Em grego moderno, não é assim. Dizem, por isso, que a língua se tornou "mais simples", porque as palavras se dividiram, se desdobraram. As palavras, escondidas noutras, revelaram-se, daí a "simplicidade" no grego moderno. Também o desaparecimento da grande maioria dos acentos (o único que se mantém em grego moderno é o acento agudo, graças a Deus), do optativo (chato e complicado), da dita voz média e a inexistência do ablativo (um caso, por exemplo, do latim) tornam o grego moderno mais fácil de perceber. Como diriam no liceu, "tem menos que estudar", sendo que este "menos" é a vida toda, como se passa para qualquer língua, dependendo do nível de exigência, de entusiasmo e de interesse de cada um. Em grego clássico, as palavras têm tantas informações que não precisam de outras, de assistentes, para se fazerem, elas próprias, entender.