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- Não percebo muito bem o que se pretende quando se diz que "há que voltar à normalidade". Se por essa normalidade se entende sair de casa e ir trabalhar, pois com certeza que sim, há que voltar. Se por essa normalidade se entende que as crianças e os adolescentes e os universitários voltem à escola, pois com certeza que sim. Mas se por normalidade entendemos que devemos esquecer o modo como as pessoas se comportaram durante esta fase difícil para todos, a cobardia que revelaram com o seu pânico, as secas moralistas que nos obrigaram a suportar em telejornais, as opiniões sobre a necessidade "patriótica" do silêncio, só para referir alguns exemplos, pois aí nada poderá regressar à "normalidade". Não podemos deixar de ver aquilo que nos foi revelado. Resta saber como vamos passar a agir perante tanta informação nova - ou que passou a ser impossível de ignorar.
- Entretanto, julgo que percebi por que razão a indignação, de um modo geral, me irrita. A maioria dos indignados, além de estar mais a falar sozinha do que a partilhar a sua frustração (que seria apenas humano), não está interessada em chegar a conclusões. Se me indigno com x+y+z então hei-de chegar a algum lado e mudar a minha conduta, como deixar de assistir a, de ler, de falar com, nos casos mais drásticos. Mas depois como é que o indignado sobrevivia?